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Partilhar o tempo, partilhar o pensamento: #Socine2017

Entre tanta coisa boa que se poderia desdobrar do XXI Encontro SOCINE, na UFPB, em João Pessoa, gostaria de arriscar algumas notas muito parciais e incompletas. A #Socine2017 foi muito mais ampla e diversificada do que qualquer uma das pessoas que participaram do evento pode apreender e compreender. E mesmo considerando o recorte específico do que pude acompanhar e o meu itinerário individual entre as atividades, as notas a seguir permanecem insuficientes. Ainda assim, eu as escrevi como uma forma de guardar algum registro do que as atividades instigaram em mim e como uma tentativa de compartilhar o que se desencadeou ali.

Intelectuais que usam Twitter

Acho que a gente precisa começar reconhecendo que a convidada para a palestra de abertura (escolhida pela excelente equipe de organização do evento na UFPB, coordenada pelo professor Marcel Vieira Barreto Silva), a professora Catherine Grant, é uma intelectual que usa Twitter. E que ela compartilhou dias antes da palestra – em seu perfil @filmstudiesff, associado ao imprescindível blog Film Studies for Free – o link para um álbum de vídeo-ensaios. Dentro do tema geral do encontro, que era “O estado da crítica”, o tema da palestra de Grant foram as possibilidades de abordagens audiovisuais na crítica e nos estudos acadêmicos. Seu título foi: “Audiovisual approaches to cinema and screen media studies”. Assim como algumas pessoas com que conversei, considerei a palestra de Grant excelente. Ao mesmo tempo, quero chamar a atenção para o fato de que a palestra em si foi antecipada e prolongada pelo uso do Twitter. Vejamos o tweet de 13 de outubro a que me referi acima (a palestra ocorreu dia 17):

Considerando que o compartilhamento do álbum do Vimeo no Twitter antes da palestra incluía uma pergunta sobre outras referências, começa a ficar evidente o uso do Twitter como uma ferramenta de expansão do diálogo (o que é ainda mais significativo, no caso, devido ao fato de o tweet ter sido escrito em português). Ao mesmo tempo, o uso do Twitter aparece, aqui, como parte de um conjunto de formas de tornar acessível o próprio processo de pesquisa. Assim, a importância de se destacar que Grant é uma intelectual que usa Twitter tem a ver com questões de construção de conhecimento (no caso, por meio de uma abertura ao diálogo multilocalizado que a internet ainda é capaz de potencializar) e de políticas de acesso livre e aberto (open access), que se transformam em práticas cotidianas. E isso não é pouco. E tem também a ver com as relações cada vez mais complexas entre a produção de conhecimento, seu compartilhamento em redes corporativas (ao Twitter e ao Facebook seria preciso acrescentar várias outras redes dominantes, entre as quais se destaca, no contexto acadêmico, o Academia.edu, no qual Grant também mantém um perfil) e o que se poderia descrever como uma tendência de captura algorítmica generalizada tanto de produtos como de processos.

Há muito a dizer sobre Grant, antes e além disso, claro (e a apresentação de sua trajetória que Ramayana Lira ofereceu está, sem dúvida, entre os melhores momentos do encontro desse ano). A palestra foi significativa da atuação intensa de Grant no campo dos vídeo-ensaios ou ensaios audiovisuais e da coerência, densidade e sofisticação de seu percurso e de seu olhar. Ao relacionar os vídeo-ensaios, que têm se tornado cada vez mais frequentes como forma de comentário crítico-analítico sobre filmes, imagens e narrativas, a outros esforços metalinguísticos da história do cinema, como Rose Hobart (1936), de Joseph Cornell, Grant articula uma perspectiva complexa diante da história e uma abertura empírica – tanto experiencial quanto experimental – diante do novo. Também ficou evidente a generosidade de seu interesse em relação ao público que a aguardava, como se verifica no gesto de tradução dos slides que utilizou (disponíveis aqui) e na inclusão de exemplos portugueses, como aqueles associados ao À pala de Walsh, e brasileiros, como os de Arthur Tuoto e do Cinemascope.

Se não é nenhuma novidade a presença de intelectuais no Twitter ou no Facebook (eu mesmo acompanho várias figuras importantes de diferentes campos de interesse nessas duas “redes sociais”, sobretudo nos casos em que não possuem blogs e sites), as escolhas em relação às plataformas utilizadas e os modos de uso de seus recursos destacam Grant da maioria dos intelectuais-usuários que conheço: ela mantém um dos blogs mais importantes do campo dos estudos de cinema; ela participa muito ativamente do Twitter há tempos, além de manter também um perfil no Facebook e, como já mencionado, no Academia.edu; ela também mantém uma conta bastante ativa no Vimeo; nesses diversos canais, ela divulga tanto seu próprio material quanto aquele de outras pessoas, articulando a atuação como produtora de textos e de vídeos, de um lado, e o papel cada vez mais importante de curadoria de conteúdo, de outro – contexto em que eu destacaria, além de seu blog já citado, o grupo Audiovisualcy no Vimeo, que também está no Twitter e no Facebook, destinando-se à reunião do que se denomina, ali, “estudos de cinema videográficos” (videographic film studies).

Praticar o acesso livre e aberto não é fácil, ainda mais de forma sustentável, coerente e abrangente, incluindo não apenas produtos e/ou resultados de pesquisa (palestras, artigos, livros etc.), mas também processos em andamento, experimentações metodológicas e derivas ensaísticas (momentos exploratórios da pesquisa, levantamento de referências bibliográficas e/ou filmográficas, coleta de dados, análise etc.). Tenho tentado fazer isso aqui no incinerrante, principalmente desde que me tornei professor da UFBA, em maio de 2017, por meio do compartilhamento de recursos de ensino (como programas de disciplinas) e de pesquisa (projeto, textos ainda exploratórios, apresentações em eventos etc.), assim como de entradas que espero tornar mais frequentes, como esta, nas quais experimento uma espécie de diário especulativo. Muita gente tem utilizado o já mencionado Academia.edu, mas o site tem sido questionado (e recusado ativamente) por diversas pessoas que, como eu, apagaram suas contas ali depois de ficarem incomodadas com o modo como a plataforma começou a monetizar o material que é nela disponibilizado gratuitamente, em busca de lucro.

Embora eu tenha críticas ao uso do Academia.edu por Grant e outros professores e pesquisadores que conheço, entendo que isso pode representar uma forma de reunir e de tornar mais acessíveis artigos e outras formas de produção de conhecimento, além de inseri-los em redes mais amplas. Entretanto, é melhor solucionar o problema da reunião e da disponibilização de material por meio de sites e/ou blogs pessoais, como o site mantido pela própria Catherine Grant. Quanto à busca de construção de redes, existem alternativas ao Academia.edu que operam em marcos muito mais interessantes de acesso livre e aberto, como é o caso, no campo das humanidades, do Humanities Commons, cujas possibilidades (que apenas comecei a explorar) me parecem bastante promissoras. Ao mesmo tempo, como uma intelectual que usa Twitter, Grant já atua numa plataforma com grande potencial para a construção de redes multilocalizadas de interlocução, e é a isso que me parece interessante chamar atenção também: o Twitter se diferencia do Facebook e de outras plataformas por sua concisão, que é frequentemente interpretada como superficialidade e fragmentação. Cada tweet tem no máximo 140 caracteres, e atualmente está em andamento uma transição para um novo limite de 280, a que alguns usuários já têm acesso. Dentro de sua concisão, no entanto, o Twitter tem se mostrado apto à construção de diálogos, e a aparente fragmentação que o caracteriza enseja, ao mesmo tempo, uma potência de multiplicação dos tempos do pensamento.

Tempos do pensamento e suas partilhas

Pensar exige tempo. Pensar junto, em diálogo aberto com outras pessoas, exige a multiplicação dos tempos, que não equivale necessariamente à expansão quantitativa da duração dos processos de pensamento, já que deve implicar, igualmente, uma transformação de sua qualidade e de suas possibilidades. O XXI Encontro SOCINE foi o maior da história da associação em número de membros, alcançando cerca de 500 participantes, se não me engano. O estabelecimento de diálogos entre diversos grupos menores dentro desse conjunto enorme de pessoas, facilitado pela existência de seminários temáticos (STs) e pela colocação de comunicações individuais em sessões articuladas conforme um importante trabalho de curadoria, depende de um esforço coletivo de partilha do tempo – tanto no sentido do compartilhamento, isto é, da participação conjunta num tempo comum, quanto no sentido da divisão, isto é, da separação e da distribuição de parcelas de tempo entre os/as participantes de cada atividade.

Um dos problemas mais difíceis de resolver em eventos acadêmicos é o da duração das falas. Geralmente, quem apresenta trabalhos ou comunicações (talvez a gente precisasse de uma palavra sintética e precisa como “ponencia”, mas isso já é outra história), tem entre 15 e 20 minutos, com uma tolerância adicional de 5 minutos. Uma sessão típica dos seminários temáticos que assisti tinha 1 hora e meia de duração e incluía 3 participantes, o que significa que, se todo mundo ficar estritamente na média de 20 minutos, restarão 30 minutos de debate, o que é, convenhamos, muito pouco. Como muitas vezes alguém ultrapassa seu tempo de fala, chegando eventualmente a 30 minutos, e frequentemente mais de uma pessoa faz isso, podemos supor que o debate precisará se prolongar um tanto apressadamente além dos limites de tempo previstos para a sessão – invadindo o tempo do coffee break ou do almoço (e não é nada muito agradável ouvir densas discussões acadêmicas com fome e com sede, ou logo depois de comer apressadamente alguma coisa) e possivelmente causando um efeito de acúmulo de pequenos atrasos que prejudica outras sessões e outros/as participantes.

A concisão do Twitter talvez possa servir como uma lição paradoxal. O Twitter sugere que não é necessário reduzir a quantidade de pessoas envolvidas no debate, em cada sessão, e que é possível extrair efeitos positivos, para o pensamento, de exposições mais curtas e mais numerosas sobre temas e pesquisas que propiciem o diálogo. Os seminários e sessões de comunicações dos encontros da Socine não precisam se tornar similares aos grupos de trabalho da Compós, conhecidos pela alta seletividade implicada em selecionar apenas 10 trabalhos de um conjunto muito mais numeroso, que na área de cinema alcançou, em 2017, se não me falha a memória, mais de 50 trabalhos inscritos. Esse seria um dos caminhos possíveis, mas ele implica um alto grau de exclusão de trabalhos, o que não me parece interessante, se consideramos o histórico dos encontros a Socine.

Em vez de tornar menos numerosos os trabalhos selecionados em cada seminário temático, acho que seria mais interessante sustentar e aprofundar uma dinâmica de concisão discursiva e multiplicação dialógica comparável àquela do Twitter. Isso pode parecer uma restrição desmedida do tempo de exposição e uma fragmentação do processo de pensamento conjunto, mas pode se tornar justamente a condição de possibilidade de uma intensificação de cada exposição e de uma multiplicação do diálogo. Sei que, para que essa possibilidade e o pensar junto que é a promessa dialógioca disjuntiva de todo debate se realizem, os/as participantes devem assumir o desafio, a responsabilidade e os riscos de exposições mais curtas, mais condensadas e, provavelmente, menos abrangentes do que a maioria parece estar disposta a propor, ao menos considerando o que pude assistir no encontro desse ano.

De fato, várias comunicações ultrapassaram os 20 minutos previstos e, mesmo em sessões com apenas 2 comunicações individuais, nas quais seria possível que cada pessoa falasse inicialmente por 30 minutos, assisti a várias exposições que chegaram perto dos 40 minutos e a algumas que ultrapassaram essa duração. Entretanto, um dos momentos mais interessantes de debate de que pude participar ocorreu no painel “Arquivo e ensaio”, realizado no dia 20/10. De modo contundente para o que estou tentando sugerir, o painel é um tipo de sessão que, diferentemente dos seminários temáticos e das sessões de comunicações individuais, exige de expositores e expositoras concisão ainda maior, com duração máxima de 15 minutos (além da usual possibilidade de tolerância de mais 5 minutos). Cada participante desse painel ajudou a tornar o início da tarde um momento bastante proveitoso, principalmente porque cada uma das exposições foi suficientemente rápida e condensada para dar tempo às demais e, sobretudo, ao debate que as sucedeu. Isso permitiu que 5 comunicações fossem apresentadas e se desdobrassem num debate que contemplou cada uma delas em suas singularidades, assim como suas relações entre si.

Enquanto as sessões de seminários temáticos e de comunicações individuais reuniam, normalmente, 2 ou 3 comunicações, que frequentemente se estendiam além do tempo previsto, o painel a que me refiro parece indicar efeitos positivos do encurtamento do tempo de exposição, o que não contradiz o tempo denso, sinuoso e demorado do pensamento. O encurtamento dos tempos de exposição não corresponde (ao menos não necessariamente) ao encurtamento dos tempos do pensamento, uma vez que a concisão das falas e a multiplicação do diálogo tornam possível o adensamento do pensamento partilhado por meio da fragmentação do pensamento individual, como ficou claro para mim a partir da experiência do painel que mencionei. Em suma, nos encontros da Socine, em particular, e no contexto de eventos acadêmicos, em geral, me parece que é mais interessante articular exposições individuais mais curtas e debates mais longos, restringir a esfera do pensamento individual e ampliar a esfera do pensamento partilhado.

Se pensar exige tempo e pensar junto depende da multiplicação dos tempos do pensamento, é crucial que, em eventos destinados ao diálogo em torno de interesses comuns, sejam buscadas ativamente, por cada participante, condições de partilha do tempo. Sem que seja necessário expandir a duração das sessões e/ou dos eventos, de um lado, ou reduzir a quantidade de participantes, de outro, é possível que o diálogo e o debate se tornem mais contundentes, com o engajamento de cada participante na realização de exposições individuais efetivamente condensadas (a meu ver, se as sessões têm 1 hora e meia, as exposições devem ser limitadas em sua duração ao tempo máximo de 15 minutos, com tolerância de mais 5). Isso proporcionaria maior tempo para o diálogo e o debate, para sua deriva imprevisível e para seu desdobramento complexo, que me parece ser o maior interesse dessas ocasiões. No caso específico dos encontros da Socine, limitar os tempos individuais de exposição e ampliar os tempos do pensamento partilhado me parece fundamental para continuar interrogando a experiência do cinema tanto em suas especificidades quanto em suas relações com outras experiências e formas culturais, históricas e existenciais.

O que assisti na #Socine2017

Listo abaixo as atividades de que participei no XXI Encontro SOCINE, para que minhas considerações possam ser contextualizadas, ao menos parcialmente, em relação ao itinerário singular que pude construir no evento. Explicitar esse itinerário é, também, para mim, uma maneira de reconhecer e de destacar a qualidade das comunicações que acompanhei, cujos títulos e resumos também reproduzo, e dos debates que as sucederam.

ST O comum e o cinema – Sessão 1

18/10/2017 às 09:30 – Sala 4

Deslocar o mito, elaborar a história: a Oréstia africana de Pasolini

Cláudia Cardoso Mesquita (UFMG) Propomos examinar o gesto de deslocamento e atualização do mito grego de Orestes (tal como referido pela trilogia Oréstia, de Ésquilo) no filme “Apontamentos para uma Oréstia africana”, realizado por Pasolini em 1969. Nossa aposta é de que o autor se serve do mito para diagnosticar a atualidade (em sua relação com o passado histórico) da África pós-colonial. Dois aspectos terão destaque em nossa análise: 1) o procedimento da anacronia; 2) a forma narrativa do “estudo” para um filme porvir.

As regras de uma ilusão

Sylvia Beatriz Bezerra Furtado (UFC) Pasolini afirma o cinema como uma nova língua da realidade, um instrumento para fazer um novo mundo, um aparato que revela e manifesta a realidade e com a qual acreditava poder aproximar o cinema e a vida, o comum. Em “Le Regole di Un’Ilusione”, diz Pasolini: “O cinema- que é uma sequência infinita que reproduz de um só ponto de vista toda a realidade – é fundado sob o tempo e obedece as mesmas regras que a vida: a regra das ilusão. É o princípio da ilusão que motiva esse artigo.

ST O comum e o cinema – Sessão 2

18/10/2017 às 11:30 – Sala 4

De um mito a outro: Pasolini entre os Tikmu’un

André Guimarães Brasil (UFMG) Imaginemos uma visita de Pasolini, não mais a Àfrica, a Índia ou a Palestina, mas às aldeias tikmu’un (maxakali). O que pensaria diante deste outro cinema, deste cinema do outro (capaz de assumir perspectivas das alteridades com as quais se relaciona): cinema-morcego, cinema-gavião, cinema-lagarta, cinema-mandioca. Especificamente, como repensar a aposta pasoliniana elaborada em suas Notas para uma Oréstia africana, diante destas imagens que parecem vindas do sonho, nascidas do interior do mito?

Modulações da voz off em ‘Wai’a: o segredo dos homens’

Bernard Belisário (UFMG) Nessa comunicação pretendemos abordar os modos como as vozes off modulam o regime de legibilidade constituído pela narração no documentário ‘Wai’a: o segredo dos homens’ (1988), de Virgínia Valadão. A análise buscará então descrever as relações entre a modulação das vozes e as cenas rituais sobre as quais comentam. A questão de fundo que anima essa investigação está relacionada com a presença dos Xavante não só em campo mas no antecampo do filme.

Segredo, intimidade, comunidade: o cinema como abertura para o outro

Samuel Leal Barquete (UFF) A partir do filme Oi’ó: a luta dos meninos (2009), de Caimi Waiassé, discutimos como um regime pedagógico das imagens atinge uma certa saturação. A partir das noções de segredo e intimidade, pensamos como a tensão posta na montagem por regimes imagéticos distintos mobiliza o olhar a partir de um contato intenso com o ritual. Isso faz emergir um espaço que o espectador e os meninos filmados podem compartilhar, potencializando o contato intercultural, que se abre para além do próprio filme.

Do familiar ao histórico

18/10/2017 às 14:30 – Sala 9

Há sempre uma imagem que falta

Roberta Veiga (UFMG) O cineasta Rithy Panh busca um arquivo, crianças nos campos de trabalho no Camboja: não há. Retorna a aldeia de sua infância roubada: não lembra. Frente à dupla falta da imagem física e mental, Panh cria uma maquete com bonecos de argila. A essa invenção no presente do cinema, a montagem chama o passado pelos arquivos do regime comunista. Ao unir memória e história, esquecimento e imaginação, pode esse dispositivo lúdico-politico, de A imagem que falta, elaborar o trauma e tornar o luto comum?

Variações da desmontagem: arquitetura da tela em “Picturesque Epochs”

Patricia Rebello da Silva (UERJ) A tela como um tabuleiro de montagem sobre o qual imagens de arquivo são dispostas em diálogo e tensionamento é o ponto de partida a partir do qual se desdobra uma reflexão a propósito de “Picturesque Epochs” (2016), de Péter Forgács. A protagonista do documentário é Mária Gánóczy. Nascida em 1927, a biografia de Mária e a da história da arte da Hungria se confundem nos inúmeros quadros pintados pela artista e nos milhares de rolos de 8mm de filmes de família e amadores colecionados por ela.

O cinema autodocumental: revisão crítica de uma época.

Candida Maria Monteiro (PUC-Rio) O artigo discute a hipótese de que o autorretrato fílmico exerce uma crítica política e cultural de um certo período histórico. A partir do documentário The Family Album, de Alan Berliner, a análise discorre sobre a ressignificação realizada através do found footage. A obra/filme se confunde com a crítica cinematográfica. Ambas, tanto a crítica (reflexão) quanto e a obra (prática) produzem um pensamento que possibilita descobertas linguísticas e estéticas no campo audiovisual.

ST Interseções Cinema e Arte – Sessão 2 – Instalações e cinema expandido

18/10/2017 às 16:30 – Sala 5

E o desenho animado foi à Bienal de Veneza

Annateresa Fabris (USP) O desenho animado “Imitation of life”, inspirado no estilo dos estúdios Disney das décadas de 1930-1940, foi apresentado na Bienal de Veneza de 2013. Seu autor, Mathias Poledna, associou ao singelo desenho, os bastidores da produção e um cartaz com os nomes de todos os colaboradores. Qual o significado desse tipo de operação? É uma reflexão sobre a indústria cultural? É um exercício de estranhamento de um gênero codificado a partir da criação de uma figura dotada de atributos anticonvencionais?

Extremidades: abordagem crítica em Station to station de Doug Aitken

Christine Pires Nelson de Mello (PUC-SP) Com o objetivo de contribuir nos debates sobre o estado da crítica relacionados às intersecções entre Cinema e Arte, a presente comunicação propõe a leitura do trabalho Station to station (2013-2015) de Doug Aitken tendo como princípio a abordagem das extremidades.

O testemunho, a montagem e as margens do arquivo

Leandro Pimentel Abreu (UERJ) Nos registros de testemunhos, a ênfase nas pausas da fala aparece como um dos recursos para realçar aquilo que permanece restrito à experiência íntima. No trabalho Entre l’ecute et la parole, da artista Esther Shalev-Gerz, e no filme Nuremberg, de Christian Delage, o processo de montagem evidencia a memória que foge a uma narrativa. Ao destacar os gestos e os silêncios nas montagens, o texto busca uma reflexão sobre as imagens e os arquivos como lugares de produção de memória.

ST O comum e o cinema – Sessão 3

19/10/2017 às 09:30 – Sala 4

Notas para um cinema de ocupação

Pedro Loureiro Severien (UFPE) A partir de uma outra forma de mobilização social que não inscreve-se mais nos corpos políticos tradicionais hierarquicamente controlados, há também uma reformulação na produção audiovisual enquanto instrumento político. A tese sustentada aqui é a de que a novidade principal diz respeito a uma produção mais horizontal, de autoria compartilhada, que se faz em coletivos audiovisuais emergentes. Ao abordar o Ocupe Estelita enquanto personagem conceitual, é possível falar num cinema de ocupação?

Rememorar para intervir, intervir para rememorar

Vinícius Andrade de Oliveira (UFMG) Partimos da hipótese de que os documentários engajados que mais sensivelmente abrem suas formas fílmicas aos atravessamentos das lutas sociais travadas nessa década nas cidades brasileiras são aqueles capazes de construir uma legibilidade histórica complexa na abordagem dessas lutas. Analisaremos assim Ressurgentes – um filme de ação direta (Dácia Ibiapina, 2014), com foco em sua articulação entre as temporalidades da urgência e da rememoração, apontando os efeitos dissensuais nele engendrados.

ST O comum e o cinema – Sessão 4

19/10/2017 às 11:30 – Sala 4

Imagens de um casamento: o cinema doméstico sob a ditadura militar.

Patricia Furtado Mendes Machado (PUC-RJ)Thais Blank (FGV/CPDOC) O objetivo é investigar as dimensões do público e do privado em filmes domésticos realizados na ditadura militar. Como as imagens do casamento dos militantes Inês Etienne e Jarbas Marques. Única sobrevivente de um centro clandestino de tortura, Inês saiu do presídio por algumas horas. A cerimônia foi filmada por um cinegrafista amigo da família. As películas permaneceram guardadas por décadas. Baseadas na metodologia de Sylvie Lindeperg, propomos recuperar a história da fabricação dessas imagens

Arquivo e montagem anarquívica em A Imagem que Falta

Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro (UFG) Analiso o filme A Imagem que Falta (2013), de Rithy Panh, com base nos conceitos de arquivo – um dos recursos mais explorados pelo cineasta neste e em outros documentários, em busca das imagens que restam do genocídio cambojano – e de anarquivo – que corresponde ao modo como o arquivo é deslocado por meio de uma série de gestos de montagem que visam a fabricar as imagens que faltam do genocídio perpetrado pelo regime dos Khmers Vermelhos, liderado por Pol Pot, de 1975 a 1979.

Tomada e retomada, militância e ensaio no cinema de Chris Marker

Julia Gonçalves Declie Fagioli (UFMG) No cinema de Chris Marker não é possível separar o cineasta militante do ensaísta. O cinema militante se aproxima do momento da tomada, enquanto o cinema ensaísta remete à retomada. O que buscamos aqui é compreender de que modo esses dois gestos se aproximam e, ainda, pensar a forma como abriga olhares múltiplos em seu cinema, revelando o caráter ao mesmo tempo militante e ensaísta em quatro filmes: Le joli mai (1962), Até logo, eu espero (1967), O fundo do ar é vermelho (1977) e Sem sol (1983).

ST Cinema e educação – Sessão 3 – Espaços comuns e devires: Cinema e formação

19/10/2017 às 14:30 – Sala 3

Reflexões sobre a formação da cineasta Mbya Guarani Patrícia Ferreira

Clarisse Maria Castro de Alvarenga (UFMG) No presente trabalho pretendo abordar a emergência da atuação da mulher no cinema Mbya Guarani, com ênfase em seu processo de formação. Vou me deter no trabalho da cineasta Patrícia Ferreira (Keretxu), professora na aldeia Koenju (São Miguel das Missões, RS) e uma das mulheres mais atuantes no quadro de cineastas do Vídeo nas Aldeias. Para analisá-lo, faço uso dos conceitos de comunidade do filme (Alvarenga, 2005) e comunidade de cinema (Guimarães, 2015).

O feedback como um “espaço comum” na prática do documentário

Douglas Resende (UFF) No decurso de uma pesquisa realizada junto com moradores de uma ocupação urbana de Belo Horizonte, aderimos à prática do feedback (ou do “cinema compartilhado”) como um modo de se produzir um espaço de partilha de experiências audiovisuais e de produção de comunidade, um “espaço comum” de troca e de aprendizagem mútua a abrigar uma pluralidade de olhares que constitui um território.

ST O comum e o cinema – Sessão 5

20/10/2017 às 09:30 – Sala 4

Pontos cegos no olhar sobre o olhar: Mate-me por favor

Amanda Brum de Moraes Ponce Devulsky (UERJ) Reflexão sobre a recepção crítica ao filme Mate-me por favor (Anita Rocha da Silveira, 2015) enquanto possível sintoma de zonas opacas que formam obstáculo para uma partilha da experiência que não se completa pois não se vê o outro. Com base nesse caso, propomos que tal invisibilidade não decorre de questões de tema ou identidade especificamente, mas do imbricamento entre estética e política que instaura vieses, os quais buscamos mapear.

Crônica de um desaparecimento: espaços para um povo em exílio

Maria Ines Dieuzeide Santos Souza (UFMG) A partir da análise da construção espacial do filme Crônica de um desaparecimento (Elia Suleiman, 1996), nosso trabalho busca compreender as distâncias formais elaboradas no quadro e os modos de ocupar o espaço, articulando-os à discussão do exílio, tanto externo quanto interno considerando especialmente a disputa territorial e a política de expulsão e despossessão imposta pelo Estado de Israel na Palestina.

ST Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais – Sessão 6: Sujeitos marginais no cinema contemporâneo

20/10/2017 às 11:30 – Sala 1

El Club, de Pablo Larraín, ou como esconder padres em uma praia fria.

Marina Soler Jorge (Unifesp) Esta comunicação analisa o filme El Club, do cineasta chileno Pablo Larraín, lançado em 2015, sob o ponto de vista das estratégias plásticas que dão suporte à narrativa. Procuraremos mostrar como alguns elementos estéticos a filmagem em contra-luz, o uso de lente grande angular e a paleta de cores fria ajuda a construir a imagem desbotada e distante de um grupo de padres criminosos, imobilizados no tempo e encerrados confortavelmente no cinzento litoral chileno.

Sujeitos à margem e exílio no cinema latino-americano contemporâneo

Bárbara Xavier França (UFMG) A partir de filmes dos diretores Lisandro Alonso e Pablo Trapero, associados ao chamado minimalismo expressivo do cinema argentino do século XXI, o trabalho propõe discutir possibilidades de se abordar novas expressões do exílio no cinema latino-americano contemporâneo. Percebendo a recorrência de temas e estratégias envolvendo ausência, marginalização e migração na produção audiovisual do presente, toma-se o exílio como chave para pensar cultura, política e violência na América Latina.

Violência e ressentimento em O Som ao Redor e História del Miedo

Fernanda Sales Rocha Santos (USP) Serão traçadas conexões temáticas e estéticas entre o filme brasileiro “O Som ao Redor” (Kleber Mendonça Filho, 2012) e o argentino “Historia del Miedo” (Benjamín Naishtat, 2014), focando dois aspectos interligados: o ressentimento social e a violência. Para tanto, utilizaremos a teorização de Ismail Xavier (2001) sobre a figura do ressentido no cinema brasileiro, assim como considerações sobre a expressão da marginalidade no cinema argentino por autores como Borgondi e Guzmán (2011).

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