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O museu imaginário

A poética do labirinto como cartografia do imaginário – não o arquivo, o anarquivo.

1. O que vejo, aqui e alhures: a poética do labirinto como cartografia do imaginário – não o arquivo, o anarquivo. Como um tecido que é preciso desdobrar para saber o corpo que cobrem seus contornos disformes. E este será sempre o corpo monstruoso e sublime de um mundo inacabado, aberto ao jogo multifacetado da especulação como deriva da imaginação.

2. O que interessa no imaginário (como substantivo, como substância) se torna legível apenas entre as imagens. Jamais nelas, onde sempre vêm se esgotar seus giros e desvios, como a água inquieta engolida pelo ralo. É apenas o extravio que interessa, é apenas na deriva extraviada da imaginação que outros giros se insinuam e o espaço-tempo entre as imagens pode ser adivinhado, mesmo que de forma efêmera e sempre em negativo: o entre como negatividade que impulsiona, como pulsão inquieta, como movimento.

3. Qualquer experiência da multiplicidade dos caminhos e itinerários entre as imagens se revela como a travessia de um labirinto. A condição de visibilidade generalizada em que vivemos equivale ao aprofundamento mais perverso da lógica do labirinto: hoje, diante das imagens, entre elas e com elas, estamos no labirinto da transparência. É na transparência que se perdem nossos passos. É em seu espetáculo que se contém o jogo da especulação, submetendo a deriva da imaginação (seja como pensamento seja como contemplação) aos vetores financeiros da especulação como movimento do capital.

4. O museu imaginário de Malraux se ergue sobre a ambivalência, como uma casa sobre areia movediça. É com a condição de se manter sobre a areia movediça e de nela fazer sua morada – como um barco sobre as águas, sem jamais lançar âncora e sem jamais se deixar engolir, afundar – que o museu imaginário permanece interessante para a deriva da imaginação. Se capturado pela lógica espetacular, o museu imaginário se transforma em museu do imaginário, fixando institucionalmente a travessia do labirinto das imagens e capturando o próprio espaço-tempo entre as imagens como uma positividade (e frequentemente um produto, uma mercadoria), em vez de uma pulsão.

5. A experiência poética deverá permanecer sempre anarquívica. Sobre o pano de fundo do arquivo infinito que constitui o museu imaginário de Malraux, a criação vive à deriva, sem centro, sem arché. É preciso rasgar o pano de fundo para criar o entre.

Uma resposta em “O museu imaginário”

[…] O interesse da vista 741 em que os Ainus dançam diante do cinematógrafo reside na promessa que abriga: a construção, filme por filme, fotograma por fotograma, imagem por imagem, do museu do mundo. De fato, o mosaico de imagens do catálogo Lumière aparece como parte do museu do mundo que o cinematógrafo inaugura e que atualiza, com a imagem em movimento, o museu imaginário. […]

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